sexta-feira, 14 de junho de 2013

O olhar de Jesus



No evangelho de Lucas 22,60-62, lemos a seguinte passagem: «Mas Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. Imediatamente, enquanto ele ainda falava, o galo cantou e o Senhor, voltando-Se, fixou o olhar em Pedro... E Pedro, saindo, chorou amargamente».

Eu tinha um relacionamento bastante bom com o Senhor. Conversava com Ele, pedia-Lhe coisas, louvava-O, agradecia-Lhe. Mas tinha sempre um sentimento ou sensação inesquecível de que Ele queria que eu olhasse bem no fundo dos Seus olhos... E isto eu não queria. Conversava muito, mas desviava os olhos, cada vez que percebia que Ele estava a olhar para mim. Sim, olhava sempre para outro lado. E eu sabia porquê! Tinha medo. Receava encontrar uma acusação nos olhos d´Ele: algum pecado não arrependido. Mas pensava também poder encontrar, naquele olhar, algum pedido: algo que Ele quisesse de mim.

Um dia, finalmente, juntei toda a minha coragem e olhei! Não havia acusação alguma. Nem exigência ou pedido. Aqueles olhos diziam-me, simplesmente: «Eu amo-te!». Nessa altura eu olhei-os ainda mais no fundo com a persistência de quem procura algo. Nada encontrei, apenas a mensagem de sempre: «Eu amo-te!». Como Pedro, também eu saí... e chorei.

O canto do pássaro, de Anthony de Mello

Leitura Bíblica: 2Coríntios 4,7-15



Paulo, em sua  Segunda Carta aos cristãos de  Corinto,  empenha-se em desdobrar os elementos fundamentais da vida nova em Cristo. Nos versículos anteriores o apóstolo havia se  apresentado como pregador de Jesus  Cristo, o Senhor. Afirma  que Deus brilha na face de Cristo e assim  somos iluminados pela luz divina. Esta é uma de suas teses mais queridas.

Ora, esta vida nova iluminada, esse tesouro, carregamos em vasos de barro.  É a força divina na fragilidade humana: fragilidade pelo fato de sermos criaturas, fragilidade devido ao pecado que mora em nós, fragilidade  em encontrar meios e modos de tornar o Amor amado,  fragilidade  por causa da falta de paciência de esperar a ação do Senhor.

Bem ciente de suas fragilidades, Paulo reconhece uma força que vem em seu socorro:  afligidos de todos os lados, mas não vencidos;  colocados no meio de imensas dificuldades, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; chegando mesmo a ser derrubados, mas não aniquilados.  Paulo lembra um ensinamento: os que são de Cristo  levam em si  mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que a vida de Jesus seja neles manifestada.

Insiste o apóstolo no tema da morte a si. “Somos continuamente entregues à morte  por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal”.   Estamos na doutrina da participação dos fieis no mistério pascal de Cristo.  Ele morre e de sua morte o Pai arranca a vida, a vida de ressuscitado.  Os que a esta morte são associados  pela conversão e pelo batismo são criaturas novas.  Participam da vitória de Cristo.  Assim, vai se realizando em nós o processo de iluminação.  Estamos  “certos de que aquele que ressuscitou o Senhor  Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado….”.

Os que carregam a graça em vasos barro  não atribuem as vitórias e conquistas a si mesmos.  Nesse contexto fazemos nossas as palavras do salmo 115 (116B): “Guardei a minha fé mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha vida’.  Confiei  quando dizia na aflição: ’Todo homem é mentiroso, todo homem’”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães
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