O Catecismo da Igreja Católica (CIC) traz a seguinte definição acerca do pecado: “É uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana" (§1849). O CIC também fala que “ninguém escapa à experiência do sofrimento, dos males existentes na natureza que aparecem ligados às limitações próprias das criaturas e, sobretudo, à questão do mal moral”. Diante de tais definições, dá para entender porque nos sentimos tão inquietos quando o assunto é “pecado”.
Cada dia mais, vemos as pessoas entrando numa crise existencial. São casais que não se entendem, são filhos que não têm qualquer referência de família, são governantes sem nenhuma ética. Infelizmente, para uma grande maioria, o que vale é o momento atual; pecado é coisa inventada pela religião para manter os seus seguidores “no cabresto”, é coisa ultrapassada. Vemos a nossa volta o resultado dessas mudanças no pensamento dos homens. O núcleo familiar se desestruturando, o índice de depressão aumentando, os suicídios se multiplicando, o número de políticos envolvidos em escândalos já nem nos causa mais surpresa... Ou você não vê para onde a sociedade está caminhando? E o que nos causa tristeza é que no meio disso tudo estão pessoas que se dizem “cristãs”.
Deus deu o livre arbítrio ao homem para que ele optasse pelo certo ou pelo errado (pecado). Na Sua Palavra, vemos alguns exemplos de pessoas que não conseguiram resistir ao pecado, sendo o mais notável deles a mulher que não resistiu à serpente, dando brechas para ele (o pecado) entrar no mundo (Gn 3,1-7). A serpente serve aqui de máscara para um ser hostil a Deus e inimigo do homem. Outro exemplo é o de Davi, que não resistiu à concupiscência dos olhos e cometeu adultério (2Sm 11,1-4). Também Judas não resistiu ao diabo e traiu o Senhor (Lc 22,3-6); com a traição, veio o suicídio e outro tomou o seu encargo (At 1,15-26).
Da mesma forma que a Palavra nos mostra exemplos de pessoas que não souberam resistir ao pecado, também nos apresenta aquelas que confiaram em Deus até o fim. José resistiu à mulher de Putifar, não obstante a atrevida insistência dela na realização do adultério (Gn 39,1-23). Jó resistiu aos seus infortúnios (Jó 1,22; 2,10; 19,25), não obstante a opulência anterior, não obstante a descarga impiedosa de desgraças que caiu sobre ele, não obstante o desânimo atroz da esposa. Jesus resistiu ao diabo (Mt 4,1-11) e a Pedro (Mt 16,22-23), não obstante a fome gerada por um jejum de quarenta dias, não obstante a ousadia de satanás, não obstante a sutileza das tentações.
Nos dias atuais, como em outros tempos, lutar contra o pecado é uma batalha difícil de ser conquistada, pois ao nosso redor estão as marcas dele a nos atrair, não só no que diz respeito ao sexo, a libertinagem, às drogas, mas a tudo aquilo que nos torna excessivamente competitivos no mundo. Tudo nos leva a um desejo momentâneo, a sentimentos egoístas. Mas se verdadeiramente estivermos dispostos a entrar em comunhão com Deus, essa luta pode ser vencida. Voltar atrás não dá mais; não temos como apagar os passos que já foram dados. Mas temos como dar passos num caminho de conversão que nos levará a Deus, passos esses que foram dados por Davi, após ser conduzido pelo profeta Natã ao arrependimento. O rei não somente confessou seu pecado, como também escreveu um salmo, o salmo 51, admitindo francamente sua falta e expressando a angústia que advém da perda da comunhão com Deus.
“Preocupas-te se a árvore de tua vida tem galhos apodrecidos? Não percas tempo; cuida bem da raiz e não terás de andar pelos galhos” (Santo Agostinho). A principal arma à nossa disposição para vencermos a luta é a ORAÇÃO, porque, mais do que qualquer outra arma, nos auxilia a descobrir os enganos: “Em todas estas coisas roga ao Altíssimo, para que Ele guie teus passos na verdade” (Eclo 37,19). De posse dessa armadura espiritual, qualquer membro do Corpo de Cristo, que somos nós, pode resistir no dia mau e dele sair são e salvo.
Orar e vigiar. Essa deve ser a nossa convicção. Que possamos tomar posse dessa verdade e que, ao menor sinal de que a tentação está se insinuando em nossa vida, lembremos de que não nascemos para o pecado. Diante da decisão entre pecar ou não, façamos a seguinte pergunta: ”o que é mais importante para mim, o prazer repentino, ou a felicidade eterna?”
Que peçamos a Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, para que ela interceda por nós que somos chamados a viver a experiência da salvação. E que o Espírito Santo nos conduza no caminho certo, pois só Ele pode nos habilitar a viver neste mundo sem sermos mundanos.
“Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,13). A resistência ao pecado nos levará à glória do Pai. É promessa de Deus para nós!
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