domingo, 15 de janeiro de 2012

A cura começa com o discernimento



Nesta vida, os sofrimentos que mais maltratam as pessoas que amam a Deus não são a pobreza, as doenças, os insultos ou as perseguições, mas as tentações e as tribulações espirituais.

Os sofrimentos são as tempestades que agitam os corações dos homens. Agitados o lodo e o perfume, o primeiro cheira mal e o segundo libera um odor agradável. Provados pela mesma desgraça, diz Agostinho, os maus odeiam e blasfemam, enquanto os bons rezam e louvam. A diferença não está na desgraça sofrida, e sim na qualidade de quem a sofre.

O homem sofre porque em vez de procurar em Deus a força, a felicidade e as respostas, ele as procura em si mesmo e nos outros homens. Assim, não demora muito para ficar confuso e cometer erros que vão causar-lhe uma grande dor.

É orando que o homem se aproxima da luz de Deus. E quanto mais se aproxima dela, melhor pode enxergar a si mesmo, aos planos do Senhor para sua vida, e desvencilhar-se das armadilhas que o maligno coloca diante dele a fim de prejudicá-lo para que não descubra a verdade.

Discernir os espíritos é descobrir o que vem de Deus, da natureza humana ferida ou do demônio, nas pessoas, grupos, lugares ou coisas; é ir ao encontro da verdade. O discernimento nos revela o que é bom para nós do ponto de vista de Deus, do seu plano para nossa vida.

A verdade pode não agradar sempre, mas nunca deixa de salvar. Ao se aproximar de Deus, a pessoa toma conhecimento de suas deformidades e pecados. Isso lhe causa dor, mas é um sofrimento terapêutico, que queima as misérias e cauteriza as feridas.

A cura começa com o discernimento. Ao tomar conhecimento do mal, a pessoa rompe com ele. No exato momento em que assume as mentiras que cercavam sua vida, e as abandona, a pessoa entra em comunhão com Deus e consegue chegar à luz da verdade. O abandono do mal é o começo da vida nova.

Quando o discernimento revela em nós o que precisa ser transformado, orienta-nos também para que conheçamos o que em nós é bom e agradável a Deus. Sua finalidade é, em tudo, nos orientar para descobrir qual seja a vontade do Senhor em sua vida.

Quem se apega ao mal, na verdade, não se ama (cf. Sl 10,6). Se a pessoa não admite as próprias faltas, não apenas lhe falta a luz do discernimento, mas ingressa em trevas mais escuras. O pior enfermo é aquele que não reconhece a própria enfermidade. Santo Agostinho, um dos grandes psicólogos dos primeiros séculos, havia compreendido que o amor a tudo o que é errado adoece a alma e atormenta o corpo. Chamo-lhe psicólogo, porque a psicologia é a parte da filosofia que trata da alma e de suas manifestações. E nisso Agostinho era mestre: “Ou destróis o pecado que há em ti ou ele te destruirá”.

Enfim, o discernimento dos espíritos é luz que distingue o que vem de Deus do que não é de Deus, julga todas as coisas a fim de ficar somente com o que é bom, é luz que alegra o coração, porque o pecado entristece a pessoa até a morte.

Quando iluminado pelo Espírito Santo, o ser humano passa a ser o que Deus sempre quis que ele fosse. Começa então a ser curado e vai se tornando uma pessoa plena, cada vez mais realizada. A fé nos garante que esse caminho de cura e realização passa pela oração.

“Meu Senhor e meu Deus, creio em teu amor, confio em tua bondade! Concede-me os teus carismas. Dá-me discernimento para que eu caminhe em tua alegria e seja feliz em tua presença. Amém!”

Do livro “O Dom do Discernimento dos Espíritos”, de Márcio Mendes

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