quarta-feira, 4 de abril de 2012

Quaresma – Tempo de Reconciliação e Conversão

Quaresma me lembra Reconciliação e Conversão. E é sobre esse tema que gostaria de refletir com vocês hoje.

Quando falamos em pedir perdão a Deus, em reconciliarmo-nos com o Senhor, lembramos logo da Parábola do Filho Pródigo, descrita no Evangelho de Lucas (15,11-32). Nessa parábola, Jesus conta a história do filho que pegou toda a sua parte da herança, saiu pelo mundo, esbanjou tudo numa vida desenfreada e depois, já sem nenhuma perspectiva de vida, se arrependeu e voltou para a casa do Pai, onde foi recebido por este de braços abertos e com toda a pompa.

Essa parábola mostra um processo de conversão, que começa com a tomada de consciência daquele que se sente perdido em todos os sentidos, que já não tem mais a quem recorrer, que sabe que errou e que por isso está pagando... Então lembra de que tem um pai rico em misericórdia. E à sua casa retorna.

Em contraponto a essa parábola, quero partilhar com vocês um trecho do livro “Jesus de Nazaré – Da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição”, escrito por Bento XVI, que fala sobre o mistério do traidor Judas, narrado no Evangelho de João (13,18-30), transcrito a seguir:

(...) No contexto que nos interessa, o evangelista limita-se laconicamente a dizer: “Depois do pão, entrou nele Satanás” (13,27).
Para João, aquilo que aconteceu a Judas já não é explicável psicologicamente. Acabou sob o domínio de outrem: quem rompe a amizade com Jesus, quem se recusa a carregar o seu “jugo suave”, não chega à liberdade, não se torna livre, pelo contrário, torna-se escravo de outras potências; ou mesmo: o fato de atraiçoar essa amizade já deriva da intervenção de outro poder, ao qual se abriu.
Entretanto, a luz, vinda de Jesus, que caíra na alma de Judas, não se tinha apagado totalmente. Há um primeiro passo rumo à conversão: “Pequei” – diz ele aos seus mandantes. Procura salvar Jesus, devolvendo o dinheiro (cf. Mt 27,3-5). Tudo o que de grande e puro recebera de Jesus, permanecia gravado na sua alma; não podia esquecê-lo.
A segunda tragédia dele, depois daquela da traição, é já não conseguir acreditar no perdão. O seu arrependimento torna-se desespero. Agora só vê a si mesmo e às suas trevas, já não vê a luz de Jesus – aquela luz que pode iluminar e vencer as próprias trevas. Desse modo faz-nos ver a forma errada do arrependimento: um arrependimento que já não consegue esperar, mas agora só vê a própria escuridão, é destrutivo, não é um verdadeiro arrependimento. Faz parte do justo arrependimento a certeza da esperança – uma certeza que nasce da fé no poder maior da Luz que Se fez carne em Jesus.
João conclui dramaticamente o trecho sobre Judas com estas palavras: “Tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite” (13,30). Judas vai para fora, num sentido mais profundo: entra na noite, vai-se embora da luz para a escuridão. O “poder das trevas” agarrou-o (cf. Jo 3,19; Lc 22,53).

Esses dois exemplos me levaram a refletir sobre o perigo que permeia a nossa vida: não somos perfeitos e estamos sujeitos aos erros, às ciladas do demônio. O que a Palavra quer nos ensinar por meio dessas passagens é que, mesmo diante dos erros cometidos, o Pai Misericordioso encontra-se à nossa espera. Ele pede de nós apenas um verdadeiro arrependimento, um desejo de voltar aos seus braços, uma autêntica conversão.

Que não sejamos como Judas, que diante da consciência de sua culpa, recolheu-se e voltou às trevas. Que, como o filho pródigo, tenhamos a coragem de admitir os erros cometidos e, de coração arrependido, voltarmos ao Primeiro Amor, Àquele que mais nos amou.

“Se dissermos: ‘não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessarmos nossos pecados, Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda a injustiça” (1Jo 1,8-9).

Se nesse tempo Quaresmal você ainda não se sentiu chamado a reconciliar-se com o Senhor, através do Sacramento da Confissão, peça auxílio ao Espírito Santo, para que Ele possa lhe conduzir nesse momento. A graça santificante do perdão lhe espera!

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