Pergunto-me quantos de nós já tivemos a experiência
de ter algo muito importante a falar e público altamente indisposto a ouvir.
Foi o que aconteceu recentemente. Tendo cometido a imprudência de não aguardar
que o ministro de música e animação sossegasse minha irrequieta audiência, não
mais consegui conquistar sua atenção nem domar suas línguas irrequietas.
Depois de tentar todos os recursos humanos e
espirituais que conseguia, queixei-me a Deus: “Senhor, o que faço, ninguém para
pra me escutar?” para minha surpresa, em meio ao meu brevíssimo suspiro de
silêncio, ele respondeu: “Não há nada a fazer. Eu já estou acostumado a isso.
Continue a amá-los e a falar-lhes o que não querem ouvir. É assim que faço!”
Obedeci, surpresa por este entendimento tão
profundo em tão breve espaço de tempo, grata pela solidária confidência do
Senhor e, confesso: louca que aquela tortura terminasse logo.
Ao deitar, exausta, voltei ao assunto durante o
exame de consciência e Deus, agora com mais tempo, entrou em detalhes: “Você se
queixa do desperdício de esforço de pesquisa para preparar a palestra;
queixa-se até do tempo dedicado a conversarmos sobre o assunto. Saiba que sei
exatamente a que você se refere. Também eu, o Verbo, empenhei esforço humano
para pregar e ensinar. Na verdade, até hoje o faço. Também eu pesquisei as
melhores comparações, as metáforas adequadas aos meus ouvintes, e até hoje me
dedico a isso. Também eu passei noites em claro conversando com o Pai sobre o
assunto de minhas pregações e ainda hoje o faço quando vocês vão pregar em meu
Nome. É bem verdade que não fui imprudente e tratei de enviar os discípulos,
dois a dois, às cidades por onde passaria. Ainda assim, minhas amadas Jerusalém
e Nazaré não me ouviram. Você passou hoje pelo o que passo desde que criei o
homem. Na verdade, pelo que passo com você: digo-lhe, constantemente, o que
está em meu coração e o que a fará santa e feliz. Sondo a melhor forma de lhe
falar, de tocar seu coração. Converso com o Pai sobre você e, através do
Espírito, transmito-lhe ininterruptamente o amor-fruto de nossa conversa
trinitária. Muitas vezes envio meus “ministros de música e animação” para
chamar sua atenção. E você ... bem, você, assim como sua irrequieta plateia,
não para de falar, de agitar-se, de preocupar-se com coisas nem sempre
necessárias”.
Depois de pedir perdão, pensei em você que me lê e
resolvi partilhar este momento que une o profeta não acolhido em sua própria
pátria, a “marta-azáfama” a agitar-se com o supérfluo e o coração humilhado e
arrependido, jamais desprezado pelo Senhor, que o presenteia até durante o
sono.
Maria
Emmir Nogueira, Comunidade Shalom
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