Jesus afastou-se com o homem, para fora da
multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva
tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer
dizer: “Abre-te!” (Mc 7, 33-34)
Uma das
experiências mais doloridas que possamos fazer é a da perda da audição. O surdo
ou o quase surdo vive uma constante inquietação. Não pode participar de
conversas porque tem que ficar sempre pedindo que as pessoas repitam o que
disseram. Vai ficando desconfiado de tudo e de todos. As novidades
não lhe chegam… Está sempre defasado. O evangelho proclamado neste
domingo fala de um “surdo que falava com dificuldade”. O Messias
viera, segundo as Escrituras, para abrir os ouvidos dos surdos e
desatar a língua dos mudos. Podemos ver atrás da trama dessa cura traços
do sacramento do batismo.
Jesus se
afasta para fora da multidão. Parece que Jesus faz isso porque vai
realizar alguma coisa que precisa ser vivenciada com interioridade, sem
burburinho. Coloca um gesto concreto: toca os ouvidos e cospe e com
a saliva toca a língua do homem. Não entramos aqui nas explicações
exegéticas a respeito desses pormenores. Jesus, olhando para o céu, quer
que o doente fique curado. Diz “Éfata”, que quer dizer
“abre-te”. No ritual do batismo há esse gesto de tocar os lábios e o ouvido do
batizando. Jesus quer extirpar o mal do mundo e do coração dos homens.
Aquele que é mergulhado na água, que é batizado, que morre a si e nasce para
uma vida nova, que se lava na água do peito aberto de Cristo tem os seus
lábios tocados para que nunca deixe de louvar o Senhor, de cantar suas
palavras. Que não seja mudo para dizer palavras de reconhecimento ao que
destrava a língua. O celebrante do batismo também, como Jesus, toca os
ouvidos…Um dos dramas mais pungentes que um ser humano pode viver é essa
incapacidade de ouvir a voz do Senhor. Ao longo do tempo da vida, aquele
que nasceu da água e do Espírito, ficará em estado de atenção para
ler os desígnios de Deus na trama do cotidiano, na Palavra proclamada, nos
acontecimentos que se sucedem, na voz daquele que está perto de nós.
A cura do surdo e mudo aponta para a renovação do ser humano,
agora em estado de prontidão diante de Deus. “Imediatamente seus ouvidos
se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
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