terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Diante da manjedoura

Cena simples e tocante: um homem de semblante sereno, uma mulher muito jovem vestida de transparência e uma criança remexendo-se nas palhas, pedindo atenção e carinho. “Muitas vezes e de muitos modos Deus falou outrora aos nossos pais pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo”.

A cena do nascimento de Deus não se repete. Lucas descreveu-a  com  pormenores delicados e símbolos eloquentes. Ora, mesmo que nem tudo tenha sido histórico, tudo é expressivo, não pela linguagem da racionalidade e da ciência, mas pelo falar dos símbolos. Há a singeleza dos pastores, seu olhar curioso e sua santa “naïvité”: olhos arregalados, bastão na mão, sorriso aberto. O evangelista fala de animais: boi e burro. De repente volta o paraíso. Céus e terra se misturam com anjos… E Maria ia guardando essas coisas no fundo do coração, tentando entende-las, acolhendo a revelação de coisas tão simples. E há essa luz sobre a casa do menino. Essa luz que vai guiar os passos de misteriosos personagens que chamamos de Magos e que vieram de longe, com o corpo suado e os pés empoeirados, que vão chegar para presentear o Deus que nasceu entre os homens. No meio de tudo, uma voz do alto está a nos dizer: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei…”.

E desde então não cessa a procissão dos que buscam o presépio do frágil menino. São pessoas que andaram bebendo de muitas águas e ainda têm sede na garganta. São esses e essas que experimentam no fundo de seu ser e nas dobras de seu coração a necessidade de buscar uma luz que permita ver o sentido da caminhada, do casamento, da família, da vida e da morte. Chegam aos bandos, param, descansam, lutam, associam-se a outros, consultam as páginas das Escrituras e quando chegam diante da cena do presépio simples ficam extasiados com um Deus que veio ser nosso companheiro.

Francisco, o de Assis, aquele que nasceu na Idade Média, queria que nesse dia a gente pegasse nacos de carne e esfregasse nas paredes para que elas soubessem que é festa, festa do nascimento de Deus. Queria ele ainda que os governantes da terra dessem dupla ração aos animais dos campos e aos pássaros dos céus. Esse mesmo Francisco, o de Assis, toma em suas mãos o Menino das Palhas e dança a dança da alegria porque  Deus se tornou pobre e despojado e não há outro caminho para a felicidade, a não ser a trilha aberta por esse menino que se tornou uma frágil criança no presépio e um condenado à morte no alto da cruz.

Hoje, diante do presépio, estarão os simples e os singelos: essas crianças embevecidas com o nascimento da criança, esses homens e mulheres adultos que chegaram ao fundo do poço e querem olhar nos olhos de um Deus criança que não pisa, não condena, mas vem sorrir nossos sorrisos, chorar nossas lágrimas e ser Deus conosco.

“A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer”.

Frei Almir Ribeiro Guimarães

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