“Houve
um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente...” (Jo 2,1)
Um casamento na roça. Em Caná de Galiléia. Mal
iniciada a festa, o vinho vem a faltar. Para os padrões daquela sociedade,
casamento sem vinho é um fracasso. Onde está o vinho, aí está a alegria. Tudo
faz pensar em gente pobre, um noivo sem muitos recursos e – quem sabe – uma
inesperada afluência de “convidados”: os numerosos discípulos que já
acompanhavam Jesus de Nazaré.
Mas, como anota o evangelista João, “estava lá a
Mãe de Jesus”. E foi ela quem percebeu a situação constrangedora. Enquanto os
convivas cuidam de si mesmos, ela está atenta às necessidades dos outros. Por
isso mesmo, Maria se dirige ao Filho e apresenta-lhe a situação: “Eles não têm
vinho...” E o faz como quem sabe que seu Filho tem condições de resolver o
problema. A Mãe conhece o seu Filho.
Até onde dá a perceber o texto um tanto obscuro,
Jesus tenta esquivar-se do caso, como se não tivesse nada a ver com a situação.
Maria ouve a resposta do Filho, mas age como quem vê por um outro ângulo. E dá
aos serventes – seguramente primos e parentes do noivo – a ordem que ainda
ressoa em nossos ouvidos: “Fazei tudo o que ele vos disser!” A obediência deles
garante a todos um agradável desfecho: notável quantidade de vinho, somada à
qualidade ainda mais notável!
Esta passagem do Evangelho de João, por mais
pitoresca que ela seja, acaba por se tornar “incômoda” para aqueles que duvidam
da intercessão da Mãe de Deus. Temos uma situação bem concreta: há uma
necessidade material, Maria a percebe e pede a interferência de Jesus. Apesar
de uma recusa inicial, o Mestre “cede” e faz o primeiro milagre de sua vida
pública.
Aliás, nada mais claro como imagem da Igreja que
intercede junto a Deus pelas necessidades do povo. É em Maria que a Igreja se
inspira para assumir sua missão de intercessora.
E tem mais! Não se trata de alguma cura que pudesse
ser traduzida como fenômeno “psicossomático” ou alucinação coletiva: trata-se
de uma autêntica transformação da matéria, água transmudada em vinho, com todas
aquelas diferenças organolépticas que envolvem cor, aroma e sabor.
Daquele dia em diante, os pobres da roça ficaram
sabendo que a Mãe pode influir nas decisões do Filho. Ficaram sabendo que a
misericórdia move o poder. Os acadêmicos continuam esperneando. Mas os pobres
preferem crer em seus próprios sentidos...
Orai sem cessar: “Mãe dos pobres, rogai por nós!”
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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