O vento era contrário... (Mc 6,48)
Quem não tem prática de navegação a vela não
imagina a importância do papel do vento! E como é difícil velejar contra o
vento! O mesmo vento que impele o veleiro como garça ligeira – quando favorável
– é o vento que rasga as velas e quebra o mastro, quando encrespa o mar como
tormenta e vendaval...
Ora, a vida cristã sempre foi navegação contra o
vento. Vento do paganismo, vento dos césares, vento dos bárbaros, vento das
revoluções, vento do nazismo, vento do comunismo ateu. Perguntem aos mártires,
a Pedro e Paulo, a Mindszenty e Van Thuan, confessores da fé... Apesar de
tantas barreiras e oposições, a Barca de Pedro segue seu périplo em direção ao
grande Dia do Senhor.
É bem verdade que existem uns marinheiros
chorões... Vivem reclamando: “Como é difícil ser cristão!” Sobem à barca, mas
não miram o horizonte. Divagam o olhar para os lados, com saudades do porto,
recordando o balé das praias na praia preguiçosa e lamentando a distância dos
grandes mercados e seus prazeres...
Nós não podemos ser assim! Apesar da pobreza de
nossos meios e da fragilidade de nossos recursos pessoais, devemos navegar
adiante, apoiados na Graça do Deus fiel que jamais abandona o navio.
Como escreveu Orígenes, “quando, entre sofrimentos,
nos tivermos mantido firmes durante as longas horas da noite escura que reina
nos momentos de provação, quando houvermos lutado o melhor possível para evitar
o naufrágio de nossa fé, estejamos seguros de que ao fim da noite, ‘quando
noite estiver avançada e já nascendo o dia’ (cf. Rm 13,12), o Filho de Deus
virá junto de nós, caminhando sobre as águas, para nos tornar o mar favorável”.
É quando Jesus aparece a caminhar sobre as águas,
demonstrando sua natureza divina e seu domínio sobre os elementos. O Senhor
está acima de todos os poderes naturais. E o evangelista anota: apenas Jesus
subiu à barca, o vento cessou.
Será que aprenderemos um dia esta lição? Sem Jesus,
nossa barca ameaça soçobrar. Crises na família. Atritos no trabalho. Dissensões
na Igreja. Se nossa humanidade falha e pecadora fica entregue a si mesma,
produz habitualmente tais frutos de morte. Competição, inimizades, rancores.
Mas se Jesus encontra espaço em nossa barca, o vento cessa e vem a bonança.
O Evangelho de hoje deixa claro para nós que foi de
Jesus a iniciativa de ir ao encontro dos discípulos dominados pelo medo.
Certamente, há muito tempo Jesus tenta subir à nossa barca...
Por que será que ainda não o deixamos entrar?
Orai sem cessar: “O Senhor será um refúgio para o
seu povo!” (Jl 4,16b)
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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