Aproxima-se a
Jornada Mundial da Juventude (JMJ)-Rio 2013. Foram quase 2 anos de intensa
preparação, desde que o papa Bento XVI anunciou, em julho de 2011, no final da
JMJ de Madrid, que a próxima Jornada seria realizada no Rio de Janeiro!
No dia 18 de
setembro sucessivo já começou a movimentação para a JMJ-Rio 2013, com a
acolhida da cruz da Jornada e do ícone de Nossa Senhora, em São Paulo;
iniciou-se, então, a peregrinação desses sinais de Jesus e de sua Mãe, que
percorreram todas as 274 dioceses do Brasil, encontrando as realidades mais
diversas vividas pelos jovens: igrejas, escolas e universidades, prisões,
locais de recuperação de dependentes químicos, favelas e situações de degrado,
como a “cracolândia”, em São Paulo.
Agora, esses
mesmos sinais já estão no Rio de Janeiro, a esperar a chegada dos jovens
peregrinos, que para lá acorrerão em grande número, procedentes de todo o
Brasil e também do exterior. Quase 200 países estarão representados! No dia 22
de julho, chegará o papa Francisco, peregrino também ele, para o abraço do
Cristo Redentor e o encontro com esta multidão, que mostrará o rosto jovem da
humanidade e da Igreja.
As JMJ são
pensadas e organizadas como peregrinações, com um significado primariamente
religioso, sem deixar de ter múltiplos outros significados. Assim, também estão
impostados os principais momentos do programa da JMJ 2013, que se estende de 22
a 28 de julho. Haverá três manhãs de “catequeses”, oferecidas em dezenas de
línguas e em cerca de 200 locais diversos; elas proporcionarão aos jovens
peregrinos a reflexão sobre alguns aspectos da sua vida, à luz da fé cristã.
Não faltarão iniciativas culturais e de solidariedade social.
Sucessivamente,
os encontros com o papa Francisco terão o mesmo objetivo: aprofundar a
experiência do encontro da grande família humana, unida por laços comuns muito
profundos, cujo movente será a experiência religiosa e eclesial, mas cuja base,
de fato, é a nostalgia latente no coração humano (ou será utopia?) de ver a
família dos povos reunida, reconciliada e vivendo em paz, malgrado todas as
diferenças nela existentes.
Os pontos
culminantes da JMJ serão a grande vigília jovens com o Papa Francisco, no
sábado, 27 de julho, e a missa no “campo da fé”, na manhã seguinte. Nesses
momentos intensos, mais uma vez, os jovens farão a experiência da peregrinação,
com todos os esforços e sacrifícios que isso geralmente requer: sair de casa e
por-se em caminho para alcançar uma meta; encontrar outros companheiros andando
na mesma direção; conversar com algum desconhecido que se encontra no mesmo
trecho e busca a meta comum; partilhar o pão e a água, socorrer quem já cansou
ou machucou o pé, festejar a chegada... Tudo isso não é uma parábola da própria
vida?
Somos todos
peregrinos e trazemos no mais íntimo de nós o desejo de chegar ao lugar do
nosso descanso, à paz e felicidade tão sonhadas, meta que move nossos passos
todos os dias, mesmo sem termos consciência disso. Os jovens da JMJ farão esta
experiência de peregrinação na fé, ao encontro dos outros e de si mesmos, ao
encontro de Deus, que os atrai de maneira sutil, mas irresistível, meta final
da existência humana.
Mas esta
peregrinação também é movida pela busca de fundamentos sólidos, que dêem
consistência e sentido ao convívio humano, onde as diferenças não sejam vistas
como barreiras ou fossos intransponíveis, mas como riquezas a compartilhar. Não
é também algo disso que se percebe nas manifestações de rua dessas últimas
semanas, com grande adesão de jovens, que descem às ruas e se colocam em
marcha? Onde querem chegar?
Protestam
contra o que não está bem na política, na economia, no ordenamento social;
acreditam que as coisas podem melhorar e têm vontade de contribuir para isso...
Nem sempre os clamores estão plenamente afinados, mas é certo que revelam uma
desarmonia profunda no convívio político e social brasileiro. Há a percepção de
uma meta, que não é simplesmente o vão livre do MASP na avenida Paulista, mas o
Brasil e o mundo melhores do que estão sendo. Os jovens dão mostras de que não
se satisfazem em navegar na rede, nem se conformam com o tentador aceno das
praias da corrupção, do degrado moral e cívico. São peregrinos da verdade e da
justiça. Sinais de esperança!
A JMJ-2013 já
estava prevista há cerca de 3 anos e os jovens, por certo, não irão ao Rio para
protestar contra o governo brasileiro, nem darão vazão às insatisfações com a
política de seus países de origem. Eles irão ao encontro do Cristo
Redentor, que os espera com os braços em cruz, para o amplexo da vida e da
esperança. No final da sua peregrinação, eles encontrarão a mesma cruz peregrina,
que foi antes ao encontro deles nos muitos espaços e ambientes onde vivem. Cruz
de madeira, tosca, nada brilhante, como foi a de Cristo; como as cruzes que
abraçamos cada dia...
Em torno dela,
juntar-se-ão às centenas de milhares, com o Papa Francisco, para proclamar a
sua fé no Deus da vida e da esperança; fé que também é necessariamente um
compromisso pessoal e comunitário com a edificação de um mundo melhor, como
eles bem o sabem sonhar, movido pelo amor, sem mais violência nem cruzes que
esmagam!
E o que esperar da JMJ? O mesmo que se espera de um campo semeado: quem pode garantir seus frutos? O tempo e a paciência os mostrarão. Sem semear, não há esperança de colher. Vale a pena investir nos jovens.
E o Brasil
terá muito fruto a colher. Serão centenas de milhares de jovens a percorrer o
país, em direção ao Rio de Janeiro. As imagens de nosso povo e de nossa
cultura, recolhidas nessa peregrinação, serão levadas para todo o mundo. E isso
tem um valor inestimável!
Cardeal Odilo Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
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