Na liturgia da Palavra deste domingo, a
segunda leitura, tirada da Carta aos Hebreus, faz o
elogio dos homens que viveram na fé e pela fé. Logo no começo
a Carta descreve: a fé é um modo de já possuir o que ainda se
espera, a convicção acerca de realidades que não se veem.
Na sequência do texto seu autor fala da fé de Abraão que obedeceu à ordem
de andar na direção de uma terra que deveria receber como herança e
partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que viveu como estrangeiro. Foi pela
fé que também Sara, embora estéril, se tornou capaz de filhos. É pela fé
que hoje os cristãos caminham, vivem, trabalham, alegram-se, sofrem e com esta
luz “possuem já o que ainda esperam”.
Sirva para nosso enriquecimento espiritual as
linhas que transcrevemos da Encíclica Lumen Fidei do
Papa Francisco onde é descrita a plenitude das fé cristã: “Abraão
(…) exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz” (Jo
8,56). De acordo com estas palavras de Jesus, a fé de
Abrãao estava orientada para ele, de certo modo era visão antecipada de
seu mistério. Assim o entende Santo Agostinho quando
afirma que os Patriarcas se salvaram pela fé, não fé em Cristo já
chegado, mas fé em Cristo que havia de vir, fé proclive para
o evento futuro de Jesus. A fé cristã está centrada em Cristo; é a
confissão de que Jesus é o Senhor e que Deus o ressuscitou dentre
os mortos (cf. Rm 10,9). Todas as linhas do Antigo
Testamento se concentram em Cristo: Ele torna-se o sim definitivo a todas
as promessas, fundamento último de nosso Amém a Deus (cf
2Cor 1,20). A história de Jesus é a manifestação plena da
fidelidade de Deus. Se Israel recordava os grandes atos do amor de Deus,
que formavam o centro das sua confissão e abriam o horizonte das sua fé,
agora a vida de Jesus aparece como o lugar da intervenção definitiva de
Deus, a suprema manifestação de seu amor por nós. A
palavra que Deus nos dirige em Jesus já não é uma entre
muitas outras, mas a sua Palavra eterna ( cf Hb 1, 1-2). Não há
nenhuma garantia maior que Deus possa dar para nos certificar
de seu amor, como nos lembra Paulo (cf. Rm 8,31-39).
Portanto, a fé cristã é fé no amor pleno, no seu poder eficaz, na sua
capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. “Nós conhecemos o
amor que Deus nos tem, pois cremos nele” (1Jo 4,16). A fé
identifica, no amor de Deus manifestado em Jesus, o fundamento sobre o
qual se assenta a realidade de seu destino último. A maior prova de
fiabilidade do amor de Cristo encontra-se na sua morte pelo homem.
Se dar a vida pelos amigos é a maior prova de amor (cf. Jo 15,13),
Jesus ofereceu a sua vida por todos, mesmo por aqueles que eram inimigos, para
transformar o coração. É por isso que os evangelistas situam, na
hora da cruz, o momento culminante do olhar de fé: naquela hora
resplandece o amor divino e toda a sua sublimidade e amplitude. São João
colocará aqui o seu testemunho solene, quando, juntamente com a Mãe
de Jesus, contemplou aquele que trespassaram (cf. Jo 19, 37).
“Aquele que viu estas coisas é que dá o testemunho delas e o seu testemunho é
verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes
também (Jo 19,35) (Lumen fidei n. 15-16).
Frei Almir Ribeiro
Guimarães
http://www.franciscanos.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário