domingo, 5 de agosto de 2012

Morrer de velhice

Dona Isaura, professora mais do que admirada, tem 98 anos e exceto pela visão , a saúde impressiona. Esses dias, dei-lhe um beijo e lhe perguntei como ia. Puxou-me para perto e me disse ao ouvido:

-Não vou, e não é porque não quero, mas porque Deus não está querendo me levar!

Brinquei com ela, dizendo que, como somos egoístas, estamos pedindo a Deus que a conserve um pouco mais entre nós e Deus está atendendo. Ela riu aquele riso lento e cadenciado dos velhos e retrucou:

-Pois tratem de pedir outra coisa. Eu estou deslocada. Não tenho mais assunto para os de hoje e os assuntos de hoje não mexem mais comigo. Sou de outra época e meu lugar é o céu, onde já estão todos os que pensam como eu penso! Sou um velho camelo-fêmea cansada que já atravessou o deserto, já bebeu toda a água que armazenou e agora, quer mais é passar pela porta definitiva.

Não tem nenhuma dúvida. Isso aqui ela já conhece. Teve 98 anos para isso. Agora está curiosa para saber como é a eternidade. E deu a mais bonita definição de morte que já ouvi: – Morrer de velhice é atravessar a porta do futuro e matar a curiosidade de quem já viu o que tinha que ver. Finalmente vou ver alguma coisa nova! O mundo é mais velho do que a eternidade,porque a eternidade não envelhece. Envelheci, mas não fiquei velha. Fiquei foi curiosa!

Pe. Zezinho,  scj.
Site www.padrezezinhoscj.com

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