Clara era
mulher nobre, filha de estirpe escolhida e privilegiada. Vivia perto da
Praça de São Rufino onde um jovem Francisco costumava pregar, falar de
conversão, de mudança de vida, imaginar uma outra maneira de se viver a
fé. Filha de mãe piedosa, trabalhada pela graça, Clara resolveu seguir o
Evangelho do Cristo pobre. Numa noite de Domingo de Ramos deixa a casa
paterna e começa a grandiosa e modesta aventura de sua vida, tal como Abraão…
Deixa sua casa, sua parentela, no coração da noite… Foge vestida de ricas vestes…
É acolhida por Francisco e seus irmãos, os cavaleiros de uma nova ordem de
coisas. Francisco corta suas tranças bonitas e a reveste de roupa pobre…
Livre de tudo e de todos, essa mulher que havia ouvido a voz do Evangelho, que
havia escutado as histórias que a mãe contava depois de suas peregrinações,
essa mulher da nobreza de torna toda iluminada… É levada até um mosteiro
de beneditinas… Depois mora um pouco num hospedaria de mulheres penitentes
ambulantes… Até que, por fim, passa a viver em São Damião… Do crucifixo bonito
e sereno… Do pátio com flores… São Damião do refeitório das princesas
pobres casadas com o Esposo Celeste… Do dormitório áspero… Ali naqueles espaços
de São Damião Irmã Clara vai alimentar seu amor sem limites pelo esposo pobre
que ele vê como num espelho…Um esposo paupérrimo que a atrai e a
seduz….Irmã da irmãs, cuidava de cada uma delas… Mesmo doente quase todo o
tempo de sua vida não deixou de trabalhar e de fazer bordados e toalhas para os
altares de rara beleza… Vida dura, de penitência, mas vida de profunda alegria…
Sempre na dimensão dos esponsais místicos com o Cristo pobre e nu… Sempre amiga
e filha e irmã de Francisco… Encarnando em sua vida de mulher e de
contemplativa toda a ternura fraterna, minorítica e missionária de Francisco…
Ela mesma, com toda sua originalidade, se considerava a plantinha do Seráfico
Pai… Teria querido morrer mártir como morreram mártires os primeiros irmãos de
Francisco… Ela e as irmãs com suas orações e de sua vida passaram a ser o
sustento para os membros frágeis da Igreja… E assim sua vida foi cheia de
sentido: contemplativa, fraterna e missionária porque tudo o que era vivido em
São Damião tinha como meta restaurar a Igreja, ordem dada pelo Senhor a
Francisco precisamente na igrejinha de São Damião.
Belíssima a
primeira leitura da festa solene de Clara: “Assim fala o Senhor: Haverei de
atraí-la, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração. Ali se tornará
como no tempo da sua juventude… Desposar-te-ei para sempre, desposar-te-ei
conforme a justiça e o direito, com benevolência e ternura… Desposar-te-ei com
fidelidade, e conhecerás o Senhor”.
Frei Almir Ribeiro Guimarães – site www.franciscanos.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário