Começamos o
santo e propício tempo da Quaresma. Durante quarenta dias, os cristãos,
lá onde vivem, lá onde são discípulos do Senhor, vão viver um tempo
caracterizado pelo empenho na linha da conversão evangélica. Somos
companheiros de Jesus que vai para o deserto preparar-se para sua missão,
deserto espaço de silêncio, de interiorização, mas também de combate contra o
espírito do mal. Na oração de abertura da Missa de hoje, pedimos que “a
penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal”. Arregaçamos
as mangas e organizamos, da melhor maneira possível, essa riquíssima quadra do
ano que nos leva até o esplendor da manhã de Páscoa, centro de nossa fé.
Joel, o
profeta, nos convida a rasgar os corações e não as vestes. Uns e outros
experimentamos um sério mal-estar: não conseguimos ser fiéis aos carinhos e às
manifestações do Senhor. Há um sentimento de remorso que, por vezes, toma
conta de nós. Será preciso “rasgar” os corações, mudar o interior
para que brilhante seja o exterior. É tempo de jejuarmos de nós mesmos, de
nossos interesses pequenos, de nossas preferências tacanhas. Há um convite
explícito a que visitemos o coração, nutramos sentimentos nobres de
arrependimento e formulemos propósitos de conversão. Estamos
começando o tempo favorável. Paulo nos diz: “Em nome de Cristo nós vos
suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”. Não se trata apenas da
recepção do sacramento da reconciliação numa rápida celebração quaresmal.
Trata-se de entrar no caminho dos penitentes, daqueles que têm o amargo como
doce, e o doce como amargo. O Apóstolo prossegue: “É agora o
momento favorável, é agora o dia da salvação”.
Os cristãos se
caracterizam por uma lisura de vida, por um comportamento sem duplicidade, por
uma existência transparente. Não cultivam a fachada, não se “maquiam” com
água benta e piedosas palavras. Não fazem suas obras diante dos homens. Quando
operam o bem, quando dão esmolas, quando se engajam em promover a
justiça, em valorizar o ser humano não tocam a trombeta. Fazem o bem sem
alarde, sem esperar recompensa. Quando rezam, entram no quarto e se dirigem ao
Pai sem adereços e pompas. O Pai ouve os seus no silêncio. Quando
jejuam, quando se privam das coisas lícitas para fortalecer o interior mostram um
semblante alegre e exalam o perfume da discrição.
Assim,
começamos a viver o tempo da Quaresma. Colocamos cinza em nossas
frontes. Queremos nos recordar que somos pó e nada mais que pó, mas que
somos amados por aquele que transforma esse pó que somos nós em luminosos
cidadãos de seu coração e de seu reino. O pedido da Quaresma é bem
este: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um
espírito decidido”.
Frei Almir
Ribeiro Guimarães
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