De todos os segredos da personalidade de Maria, que devem ter encantado o Deus Todo-Poderoso para que ela educasse o menino Jesus, o mais espetacular é que sua espiritualidade não era apenas inteligente, mas regada a prazer. Os pensamentos no corpo do texto do Magnificat (Lc 1,46-56) revelam a inteligência de Maria, mas as duas primeiras frases revelam uma maneira de se relacionar com Deus completamente diferente da religiosidade humana, não apenas da época, mas de todos os tempos.
Maria disse: "A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus". Que religioso teria a coragem de dizer que sua mente engrandece a Deus?
Nossa mente, ao contrário, frequentemente diminui Deus, pois o reduzimos ao tamanho dos nossos preconceitos, no cárcere de nossas verdades. Em nossas mentes passa um monte de tolices, ideias bizarras, pensamentos mórbidos, imaginações negativistas e perturbadoras.
O canal de comunicação de Maria com Deus não era fundamentado em rituais, palavras decoradas, sacrifícios programados, mas num diálogo aberto, singelo, sem barreiras. Nós diminuímos Deus no teatro da nossa mente, Maria teve a ousadia de dizer que O engrandecia, O exaltava, O condecorava.
Quem pode afirmar que Deus é sua fonte de prazer? Quem tem serenidade para dizer que Deus é o manancial mais excelente de alegria. Que fariseu poderia fazer essa afirmação? Que cristão da atualidade tem um relacionamento com Deus repleto de prazer?
Os pensamentos de Maria me deixam abismado. Eles indicam que Maria se comportava de forma diferente da dos fariseus e escribas, enfim, dos mestres da lei. Para eles, Deus estava nos céus, num lugar inatingível; para Maria, Deus estava num lugar extremamente próximo, tão próximo que tocava seu espírito.
Eles faziam rituais e orações programadas, Maria era amiga de Deus. Antes de o Anjo aparecer e anunciar o nascimento do menino Jesus, Deus já tocava seu ser. Somente isso explica que o seu pensamento não apenas exaltava Deus em sua mente, mas seu espírito o exultava. Maria não servia a Deus, ela vivia Deus.
Não sei como Maria aprendeu esse relacionamento. Possivelmente nenhum religioso a ensinou. Talvez tenha aprendido intuitivamente. Provavelmente na sua infância ela conversasse sozinha com um Deus. Talvez tenha sido tachada de louca, insana, por tal comportamento. Mas o fato é que entre Deus e ela não havia barreiras, não havia separação.
Para Maria, Deus era muito mais do que a religião judaica. Deus era um oásis de alegria, um rio em que fluía satisfação. Ela estava em sintonia com a maneira como Jesus divulgava Deus para a humanidade.
Para Jesus, Deus não era um ser punitivo, mas generoso e acolhedor; Deus não era um acusador de erros, mas uma fonte inesgotável de perdão; Deus não era um carrasco distante do sofrimento humano, mas um pai compreensivo e afetivo capaz de chorar nossas lágrimas.
Ele anunciava eloquentemente: "Quem tem sede venha a mim e beba". Os homens queriam servir com temor o Deus que habitava os céus, uma dimensão muito distante de nós, mas Jesus discursava sobre um Deus que estava infinitamente próximo, que visitou a humanidade como manancial de prazer.
Maria foi escolhida porque, antes de Jesus anunciar esse Deus, de algum modo ela O tocou de maneira única.
Do Livro “Maria, a maior educadora da História”, de Augusto Cury
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