quinta-feira, 15 de março de 2012

Dor compartilhada é dor amenizada

Há uma coisa que aprendi de joelhos: se choro enquanto oro, se, na oração, as lágrimas brotam não somente dos olhos mas sobretudo do meu coração, compartilho com Deus a minha dor. É dessa partilha que nasce o meu amor por Deus. E é na “não-partilha” que ele acaba. Porque a gente só consegue amar a Deus depois de ver que ele não nos abandonou em meio aos nossos sofrimentos – depois de ver que ele é por nós. E, no exato momento em que pelas lágrimas abro o coração diante dele, o sofrimento perde força e a dor diminui. Dor compartilhada é dor amenizada, diz Santo Agostinho.

Um homem chamado Evágrio era discípulo de São Gregório Nazianzeno e viveu até o ano 399. Ele tinha aprendido de seu mestre e ensinava a todos que na oração deve-se sempre pedir o dom das lágrimas, pois elas têm a graça de suavizar toda dureza. É por isso que quem chora se acalma. E se chora tocado pelo dom do Espírito Santo recebe, então, uma tranquilidade cheia de paz, e uma calma feliz repousa em seu coração. É como diz o salmista: “Senhor, meu coração não se enche de orgulho, meu olhar não se levanta arrogante. Não procuro grandezas, nem coisas superiores a mim. Ao contrário, mantenho em calma e sossego a minha alma; tal como uma criança no seio materno, assim está minha alma em mim mesmo. Israel, põe tua esperança no Senhor, agora e para sempre” (Sl 130).

O coração depois do choro é como a terra depois da chuva. Os ares ficam mais leves, tudo fica mais limpo, certo frescor se faz sentir e a terra se torna mais fértil. Da mesma forma, depois das lágrimas vem a calmaria (cf. Tob 3,22), e uma paz cheia de vida abraça a gente por dentro. As lágrimas se derramam no momento em que a cabeça cede espaço ao coração e deixa que ele fale. É por isso que, na oração e neste dom, o coração encontra a paz, porque pode desabafar.

Existem certas coisas de que a gente só se livra quando conta para alguém. É assim que o coração se liberta de um mal que o oprime: manifestando-o, colocando-o para fora, falando, gemendo ou chorando. Dor compartilhada é dor amenizada. Dor dissimulada, escondida, disfarçada, é dor multiplicada. Pessoas que guardam tudo para si e não revelam seus sentimentos não tardam a manifestar enfermidades. Não é verdade quando se diz que homem que é homem não chora. A verdade é que homem que não se permite chorar fica doente. Uma mulher que não abre seu coração entra em amargura.

Hoje, vemos muitas pessoas em busca de formas de relaxamento, técnicas de meditação e autocontrole. Querem encontrar novamente um sentido para sua vida, querem se libertar da tristeza, do descontrole emocional, e esvaziar as tensões. Certamente, experimentariam grande alívio e curas profundas se, rompendo com os preconceitos, pedissem a Deus o dom das lágrimas e permitissem que o Espírito Santo penetrasse fundo em seus corações, libertando-as de seus ressentimentos, opressões e toda espécie de transtorno e confusão.

Quando o Espírito Santo nos visita com esse pranto inspirado, abre o nosso coração não para ficar curtindo a dor, mas para admitir que secretamente ela ainda lateja em nosso coração. Somente quando homem e mulher admitem a própria dor e dela não fogem mais, é que podem dominá-la e transformá-la. Não se vence a dor fugindo dela, mas abraçando-a e compreendendo-a.

Do Livro “O Dom das Lágrimas”,  Márcio Mendes

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