Ninguém vive
sem amor, e ninguém ama sem sentir dor. O amor é um mistério, um segredo que se
vive sem esperar nada em troca. Na dinâmica da vida desejamos ser amados,
compreendidos, respeitados, valorizados, considerados.
Tudo começa
com sorrisos e termina em lágrimas, e sem elas a vida perde o sentido. Como
amar e sentir a dor da traição, da desconfiança, da mentira, da falsidade, do
silêncio, da solidão, do abandono, do reconhecimento?
Não existe
amor sem dor. Na medida em que a dor é amada, imediatamente é superada. “Só
quem passa pelo fogo da dor, chega ao incêndio do amor”. Saber amar é saber
superar gratuitamente cada pequeno ou grande desencontro, sem esperar nada em
troca, a não ser a força de recomeçar. Diante dos conflitos da vida cotidiana,
a tentação é saber quem tem razão, quem errou. A solução nos interessa, e não o
culpado.
O Papa
Francisco no domingo passado dizia: “Supomos sermos justos, e julgamos os
outros. Julgamos até Deus, porque pensamos que deveria punir os pecadores,
condenando-os à morte, em vez de perdoar. Agora sim corremos o risco de
permanecer fora da casa do Pai! Como aquele irmão mais velho, em vez de se
alegrar porque seu irmão retornou, ele fica com raiva de seu pai que o acolhe e
faz festa.
Se em nossos corações
não há misericórdia, alegria do perdão, não estamos em comunhão com Deus, mesmo
observando todos os preceitos, pois é o amor que salva, não apenas a prática
dos preceitos. É o amor por Deus e pelo próximo que realiza todos os
mandamentos. E este é o amor de Deus, a sua alegria: perdoar. Nos espera
sempre! Talvez algum de vocês tenha algo pesado em seu coração: ‘Mas, eu fiz
isso, eu fiz aquilo...’. Ele te espera! Ele é pai: sempre espera por nós!
Se vivemos de
acordo com a lei ‘olho por olho, dente por dente’, jamais sairemos da espiral
do mal. O Maligno é inteligente, e nos ilude que com a nossa justiça humana
podemos nos salvar e salvar o mundo. Na realidade, somente a justiça de Deus
pode nos salvar! E a justiça de Deus se revelou na Cruz: a Cruz é o julgamento
de Deus sobre todos nós e sobre este mundo.
Mas como Deus
nos julga? Dando a vida por nós! Eis o ato supremo de justiça que derrotou, uma
vez por todas, o Príncipe deste mundo; e esse ato supremo de justiça é também
ato supremo de misericórdia. Jesus chama todos a seguirem este caminho: ‘Sede
misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso’ (Lc 6:36)”.
O que
aconteceu com aquele que amou a todos, que acolheu os pecadores, fez refeição
com eles? O que aconteceu com aquele que curou a os doentes, restabeleceu os
paralíticos, fez os surdos ouvirem e os cegos verem?
Como terminou
a vida daquele que fez milagres multiplicou cinco pães e dois peixes matando a
fome de uma multidão? Qual foi o fim daquele que arrastou multidões e foi
aclamado como Rei? O fim foi a solidão, o abandono, a condenação e a morte. Não
existe amor verdadeiro sem cruz e sofrimento. O amor dói. É doído amar sem
esperar nada, a não ser amar. Foi na entrega por amor do homem de Nazaré, o
Filho único do Pai, que hoje somos capazes de amar, mesmo quando o amor dói.
Dom Anuar Battisti, Arcebispo de Maringá (PR)
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