As leituras
deste domingo nos convidam a meditar sobre algumas características fundamentais
da família cristã.
A primeira: a
família que reza. O trecho do Evangelho coloca em evidência dois modos de
rezar, um falso – aquele do fariseu – e outro autêntico – aquele do publicano.
O fariseu encarna uma atitude que não exprime a gratidão a Deus pelos seus
benefícios e a sua misericórdia, mas sim satisfação de si. O fariseu se sente
justo, se sente no lugar, se apoia nisso e julga os outros do alto de seu
pedestal. O publicano, ao contrário, não multiplica as palavras. A sua oração é
humilde, sóbria, permeada pela consciência de sua própria indignidade, das
próprias misérias: este é um homem que realmente se reconhece necessitado do
perdão de Deus, da misericórdia de Deus. A oração do publicano é a oração do
pobre, é a oração que agrada a Deus, que, como diz a primeira Leitura “chega às
nuvens” (Eclo 35, 20), enquanto a do fariseu é sobrecarregada pelo peso da
vaidade.
À luz desta
Palavra, gostaria de perguntar a vocês, queridas famílias: rezam alguma vez em
família? Alguns sim, eu sei. Mas tantos me dizem: como se faz? Mas, se faz como
o publicano, é claro: humildemente, diante de Deus. Cada um com humildade se
deixa olhar pelo Senhor e pede a sua bondade, que venha a nós. Mas, em família,
como se faz? Porque parece que a oração seja algo pessoal e então não há nunca
um momento adequado, tranquilo, em família… Sim, é verdade, mas é também
questão de humildade, de reconhecer que temos necessidade de Deus, como o
publicano! E todas as famílias têm necessidade de Deus: todos, todos!
Necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua benção, da sua misericórdia, do
seu perdão. E é necessário simplicidade: para rezar em família, é necessário
simplicidade! Rezar junto o “Pai Nosso”, em torno da mesa, não é algo
extraordinário: é algo fácil. E rezar junto o Rosário, em família, é muito
bonito, dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa, a
esposa pelo marido, ambos pelos filhos, os filhos pelos pais, pelos avós… Rezar
um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto torna forte a família: a oração.
A Segunda Leitura
nos sugere um outro ponto: a família conserva a fé. O apóstolo Paulo, no fim de
sua vida, faz um balanço fundamental e diz: “Conservei a fé” (2 Tm 4, 7). Mas
como a conservou? Não em um cofre! Não a escondeu sob a terra, como aquele
servo um pouco preguiçoso. São Paulo compara a sua vida a uma batalha e a uma
corrida. Conservou a fé porque não se limitou a defendê-la, mas a anunciou,
irradiou-a, levou-a longe. Colocou-se do lado oposto a quem queria conservar,
“embalsamar” a mensagem de Cristo nos confins da Palestina. Por isto fez
escolhas corajosas, foi a territórios hostis, deixou-se provocar pelos
distantes, por culturas diversas, falou francamente sem medo. São Paulo
conservou a fé porque, como a havia recebido, doou-a, indo às periferias sem se
apegar a posições defensivas.
Também aqui,
podemos perguntar: de que modo nós, em família, conservamos a nossa fé? Nós a
temos para nós, na nossa família, como um bem privado, como uma conta no banco,
ou sabemos partilhá-la com o testemunho, com o acolhimento, com a abertura aos
outros? Todos sabemos que as famílias, especialmente as mais jovens, muitas
vezes são “apressadas”, muito ocupadas: mas alguma vez já pensaram que esta
“corrida” pode ser também a corrida da fé? As famílias cristãs são famílias
missionárias. Mas, ontem ouvimos, aqui na Praça, o testemunho de famílias
missionárias. São missionárias também na vida de todos os dias, fazendo as
coisas de todos os dias, colocando em tudo o sal e o fermento da fé! Conservar
a fé na família e colocar o sal e o fermento da fé nas coisas do cotidiano.
Um último
aspecto recebemos da Palavra de Deus: a família que vive a alegria. No Salmo
responsorial encontra-se esta expressão: “os pobres escutem e se alegrem”
(33/34, 3). Todo este Salmo é um hino ao Senhor, origem de alegria e de paz. E
qual é o motivo deste alegrar-se? É este: o Senhor está próximo, escuta o grito
dos humildes e os livra do mal. Escrevia ainda São Paulo: “Alegrai-vos sempre… o
Senhor está próximo” (Fl 4, 4-5). É… eu gostaria de fazer uma pergunta hoje.
Mas, cada um leve-a ao seu coração, a sua casa, como uma tarefa a fazer, certo?
E se responda sozinho. Como está a alegria na sua casa? Como está a alegria na
sua família? E deem vocês a resposta.
Queridas
famílias, vocês sabem bem: a verdadeira alegria que se desfruta na família não
é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis… A
alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem
no coração, e que nos faz sentir a beleza de estar junto, de apoiar-nos uns aos
outros no caminho da vida. Mas na base deste sentimento de alegria profunda
está a presença de Deus, a presença de Deus na família, está o seu amor
acolhedor, misericordioso, respeitoso para com todos. E, sobretudo, um amor
paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, em família, a ter
este amor paciente, um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor paciente.
Somente Deus sabe criar a harmonia das diferenças. Se falta o amor de Deus,
também a família perde a harmonia, prevalecem os individualismos e se extingue
a alegria. Em vez disso, a família que vive a alegria da fé a comunica
espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a
sociedade.
Papa
Francisco, Jornada das Famílias, Vaticano, 27/10/2013
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